[Entrevista] Breno Melo - Marta - Minha Vida Literária
Minha Vida Literária
14

nov
2011

[Entrevista] Breno Melo – Marta

Oi gente!
Hoje trago pra vocês uma entrevista com o Breno Melo, autor de “Marta”, livro já resenhado aqui e que está sendo sorteado na promoção de Literatura Brasileira!
Quero agradecer ao Breno por ter cedido a entrevista e por toda a atenção dada! Muito obrigada!
Espero que gostem e se interessem pelo livro.
É uma leitura com certeza recomendada!


Quem é o Breno? Conte para nós um pouco sobre você!
Vejamos se consigo resumir… Brasileiro, nasceu no Rio de Janeiro, 31 anos, sexo masculino, ex-funcionário público, alguns poemas escritos em inglês publicados em antologias nos EUA e Europa, um romance chamado “Marta”, fala alguns idiomas (como você pode perceber pelas pequenas traduções que aparecem ao longo do romance), leitor, etc.
Se você pudesse escolher três palavras que o melhor definiriam, quais seriam?
Observação, paciência, reflexão.
Você é um escritor em tempo integral ou tem alguma outra ocupação, além desta?
Minha única ocupação no momento é “Marta”.
Por trás de um escritor, normalmente há um amante pela leitura. Com você, a afirmação é verdadeira?
Certamente. Isso não poderia ser de outro modo.
Talvez você tenha me perguntado isso por causa dos vários autores mencionados ao longo do romance “Marta”. Homero, Ventadorn, Petrarca, Dante, Shakespeare, Flaubert, Machado, etc. Se o motivo da pergunta foi esse, sua observação está correta.
Note, ainda, que não me contentei em reproduzir um soneto de Boscán no romance, mas em traduzi-lo com o português da época do original espanhol. Você também pode notar isso com respeito aos trechos de “Romeu e Julieta” que aparecem traduzidos no romance. Espero que você tenha gostado de ler as traduções tanto quanto gostei de fazê-las.
Você tem um gênero literário favorito?
Meu gosto literário casa muito bem com a da Crítica Literária, o que equivale a dizer que, em se tratando de romances, os psicológicos são os meus preferidos. “Dom Casmurro” e “São Bernardo” são dois ótimos romances psicológicos da Literatura Brasileira.
Os outros gêneros literários de minha predileção ou já saíram de moda ou já não vivem o auge de sua popularidade, de modo que só deveríamos falar deles rapidamente. Refiro-me à Epopeia e ao gênero lírico.
Quem leu “Marta”, pôde encontrar alguns poemas ao longo do livro, inclusive dois sonetos do Século de Ouro Espanhol, devidamente traduzidos, é claro!
Quando surgiu o desejo de escrever um livro?
Surgiu há muitos anos, mas já não estamos falando de “Marta”.
 
Você tem algum “ritual” para escrever ou escreve em qualquer lugar, de qualquer maneira?
Diferentemente de outros autores, não escrevo em punhos de renda, nem mantenho um gato sobre o colo, nem descasco laranjas antes de escrever. Eu escrevo da maneira mais comum ou civilizada do mundo, isto é, sentado e em silêncio. Não tenho rituais.
 
Como surgiu a idéia para “Marta”?
Não há uma resposta óbvia ou muito clara para a sua pergunta. Eu poderia dizer que tive uma ideia, uma inspiração ou algo que o valha. A resposta, dada assim, seria simples e fácil de entender, mas a verdade é outra.
A ideia para “Marta” é bastante anterior ao próprio romance. Porque “Marta”, em essência, não é diferente de outros romances que experimentei escrever, e bem creio que um destes romances anteriores tenha sido o rascunho de “Marta”. A grande diferença, desta vez, foi a protagonista…
A ideia para “Marta” surgiu da tentativa de retratar a realidade, como fazem os escritores realistas. Se eu tivesse que imaginar 100% da história, ela provavelmente seria mais pobre ou menos complexa do que é. Dizem, e eu concordo plenamente, que a realidade costuma render histórias mais ricas ou complexas que a imaginação pura e simples.
Por que a bipolaridade?
Porque Marta (a verdadeira Marta) é bipolar. Não havia o que escolher. O tema não poderia ser outro.
Como foi escrever um romance visto pelos olhos de uma garota bipolar? Que tipo de pesquisas foram necessárias para a construção da personagem?
Ver o mundo pelos olhos de uma garota bipolar é como apreciar o mundo através das canções de Kurt Cobain, do Nirvana. Kurt Cobain era bipolar. Ouvindo suas músicas, você pode não perceber isso, mas na produção artística de todo bipolar sempre há algo que fala a favor de um diagnóstico positivo.
Mas Marta é um caso à parte. O transtorno bipolar na infância e adolescência só foi reconhecido oficialmente como enfermidade em 1994: há muitos estudos em andamento e muitas perguntas que ainda não foram respondidas. Se eu me baseasse apenas nos estudos já realizados, “Marta” se tornaria um livro obsoleto em poucos anos se minha intenção fosse “ensinar”, porque sempre surgem novos estudos que corrigem os antigos ou os substituem. Pareceu-me mais sensato mostrar uma bipolar de verdade, porque a enfermidade será a mesma tanto em 2012 como em 3014! Em poucas palavras, não a enfermidade, mas o que se sabe sobre ela é que varia com o tempo.
Não me informei sobre o assunto para escrever um livro, mas para entender um caso real. A personagem foi antes adaptada ao livro que criada para ele. Em outras palavras, a personagem já me veio às mãos praticamente construída…
Quão difícil foi escrever “Marta”? Demorou muito tempo? E para publicar?
Nada é difícil quando feito de boa vontade…
Levei 21 dias para escrever os originais em espanhol, e 12 dias para escrever a versão em português. Para ver a obra publicada, levei um pouco mais de tempo: alguns anos…
Ofereci a versão em espanhol a algumas editoras no exterior e a versão em português a várias editoras brasileiras, especialmente às pequenas. Se eu não tivesse sido insistente, os leitores que gostaram de “Marta”, como você e muitos outros, jamais teriam lido o romance. Entretanto, isso não é algo que os autores gostem de revelar aos leitores. É mais simples dizer que a publicação foi fácil ou que um editor reconheceu o valor do livro “à primeira lida”, mesmo que, na verdade, a história tenha sido outra…
Vaidades à parte, no que dependesse dos editores, não teríamos um José de Alencar, um Drummond, um Augusto dos Anjos… Portugal não teria um Fernando Pessoa com o seu livro “Mensagem”… A Argentina não teria um Borges. Todos esses autores mencionados acima não encontraram um editor que lhes abrisse as portas do mercado editorial. José de Alencar custeava seus livros e só encontrou um editor no fim da vida, quando já era popular. Drummond custeou a publicação de “Alguma Poesia” (o livro que você estuda na escola se quer passar de ano). Augusto dos Anjos, idem. Fernando Pessoa (ainda mais que é Fernando Pessoa) fez um empréstimo para custear a publicação do livro “Mensagem”, porque queria concorrer num concurso literário. Concorreu e foi vencido por um poeta cujo nome praticamente ninguém mais lembra. Borges, na Argentina, também teve seu primeiro livro custeado.
Em poucas palavras, salvo raríssimas exceções, não deveríamos pensar que um livro será publicado unicamente porque é bom. Os autores acima eram ou continuam sendo os melhores de sua época ou país, e isso não foi suficiente para que eles encontrassem um editor.
Obviamente, você pode ser um bom escritor e ver sua obra publicada imediatamente. Mas, salvo a intervenção de uns poucos editores, verdadeiros heróis da Literatura Nacional, esta é uma questão que se encontra quase totalmente para lá do fato de um autor ser bom ou mau.
A bem dizer, existe uma ideia romantizada sobre a publicação de livros, baseada unicamente na qualidade da obra, sem levar em conta relações de compadrio, o modo como as editoras funcionam, quem são as pessoas que avaliam os originais, como elas são escolhidas para essa função, que critérios adotam, por que certos livros devem ser publicados mesmo quando há outros melhores, formação de público, etc. É no meio desse emaranhado de fatores que o fator “qualidade da obra” entra, às vezes para ocupar um lugar modesto… Eu poderia escrever um post para cada pormenor dito acima, mas basta; isto aqui é ou deveria ser uma entrevista!
Como eu disse acima, teria sido mais simples ter dado outra resposta…
Tem outros projetos em mente?
Nenhum outro projeto além de “Marta”.
Ping Pong
 

Seu signo do zodíaco:
Áries
Uma qualidade:
Energia
Um defeito:
Impulsividade

Um livro:
Dom Casmurro
Um autor:
Padre Vieira
Uma música:
Garota de Ipanema
Um filme:
O Pagador de Promessas (adaptado de uma peça de Dias Gomes)
Uma comida:
Espaguete
Uma estação do ano:
Inverno
Um lugar:
Qualquer lugar onde me sinta bem.
Um sentimento:
Bondade
Um sonho:
Se estamos falando de um sonho realizado, ter encontrado leitores que gostassem de “Marta”.
Uma frase:
“Feliz de quem pode penetrar a causa secreta das coisas.” (Virgílio.)
 
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21 Respostas para "[Entrevista] Breno Melo – Marta"

Jovens Leitoras - 14, novembro 2011 às (14:38)

Adorei e entrevista. Tenho muita vontade de ler o livro dele, vou participar da promoção =)

Beijos, Bárbara.

Pabline - 14, novembro 2011 às (15:14)

Uau… Que entrevista incrível, se eu já estava interessada por Marta, fiquei ainda mais vendo o próprio escritor falando e suas inspirações. Gostei muito de o livro ter tanta referencia com outros autores que ele gosta.
E Dom Casmurro é tbm um dos meus livros favoritos da literatura brasileira.
Gostei muita da entrevista.
BJ!

-Amigas Entre Livros-

Lucas Martins - 14, novembro 2011 às (15:21)

Adorei a entrevista, Mi!
É sempre bom conhecer um pouco mais sobre algum autor. E estava curioso para saber como ele escreveu este livro, que parece muito bom, e a ideia que teve para explorar a bipolaridade da personagem.
Beijão!

Alinne - 14, novembro 2011 às (15:47)

Adorei a entrevista. Parabéns Mi!
Sempre aprecio conhecer um pouco mais a respeito dos novos autores e da onde surgiu a inspiração de escrever determinado livro. Achei esse livro bem interessante principalmente por ter uma personagem que é bipolar.
Ele tem bom gosto com a música pois também adoro um MPB.
Beijos.
Books e Desenhos

Jackie - 14, novembro 2011 às (15:47)

Tem selinho para vc la no meu blog *-*
http://des-autorizados.blogspot.com/2011/11/doce-selinho.html
bjks

Mari ♥ - 14, novembro 2011 às (17:09)

Ah que bacana hein, conheci ele através do blog e vi que ele é super simpático hahahaha
Não vejo a hora de lê o livro e é claro já estou participando da promoção aqui do blog =)]
Beijo
http://marifriend.blogspot.com/
@Storieandadvic

Marcelo Lima - 14, novembro 2011 às (17:15)

Muito bacana )- de onde eu tirei essa palavra kkk) muito simpatico o autor “)

Sofia - 14, novembro 2011 às (18:13)

Linda Mi, parabéns! Ficou ótima…

Ri com a entrevista… rsrsr É sempre bom você conhecer mais sobre os escritores, com certeza e ainda mais sobre uma obra tão estimulante a ler, né? Enfim, amei… Peraí. Para tudo! 21 dias?! OMG!!!

Beijokas

Lendo de Tudo

Naty - 14, novembro 2011 às (18:32)

Nossa, adorei ler essa entreivsta. Ainda não li o livro Marta, mas tenho ouvido falar muito bem dele. acho interessante o autor falar sobre bipolaridade no livro, um tema diferente 😉

Bj;*
Naty – Just Books !

Loucos Por Livros! - 14, novembro 2011 às (18:39)

Já tinha visto em um outro blog sobre o livro “Marta”, mas não tenho curiosidade em ler o livro. Não é meu estilo…
Mas, adorei a entrevista! Parabéns por ela!
Beijos ;*

Ana Carolina
http://loucospor-livros.blogspot.com

✿ Nessinha✿ - 14, novembro 2011 às (19:17)

Oi Mi!
Adorei a entrevista, e gostei muito das perguntas que vc fez!
Vc já falou neste livro, e estou ficando cada vez mais curiosa para ler!
bjinhs
http://diariodeincentivoaleitura.blogspot.com/

Gabriela Wegner - 14, novembro 2011 às (22:03)

Gostei bastante da entrevista.
Achei interessante a idéia de “ler um livro visto pelos olhos de uma garota bipolar.”
Me deu vontade de ler esse livro *-*
Beijos

Natalia Dantas - 14, novembro 2011 às (22:37)

Adorei a entrevista com o Breno 🙂
Fiquei interessada no livro.
Beijos :*
Natalia.
http://musicaselivros.blogspot.com/

Eduarda Menezes - 14, novembro 2011 às (23:03)

Achei a entrevista bem diferente! Adorei as suas perguntas, Mi! O autor pelo visto percorreu um longo caminho para chegar onde se encontra hoje, e é visível o seu amor pela obra. A insistência é mesmo fundamental para todos que querem ver a suas obras publicadas. É como ele disse, as vezes o autor dá sorte e consegue a publicação imediatamente, as vezes não. O importante é não desistir e acreditar no potencial do que você faz.

Gostei de conhecer as inspirações do autor no processo de desenvolvimento do livro, e com certeza tenho interesse em lê-lo!

Beijos Mi! =*

Igor Gouveia - 14, novembro 2011 às (23:17)

Mi! Adorei a entrevista. Estou louco demais pra ler Marta. Desde a sua resenha. O tema é bem interessante.

Abraços!

Milly - 15, novembro 2011 às (01:30)

Adorei a entrevista! 🙂
E estou com muita vontade de ler Marta.

Beeijos ;*

Aym - 15, novembro 2011 às (03:10)

Favor não sumir mais do Macchiato, sentindo falta dos seus comentários =( vasahusuhasuahus
beijos Aione, arrasando nas entrevistas como sempre.
;*

Esmalte de Morango - 15, novembro 2011 às (12:51)

Oi Mi!
Sou muito curiosa para ler o livro do Breno. Aborda um tema tão interessante que é a bipolaridade.

Beijos e ótima entrevista
http://manialiteraria.blogspot.com/

Ni - 15, novembro 2011 às (14:45)

Oi moça! Deixa eu fazer um comentário: eu adoro as PERGUNTAS que você faz! Hahahahaha! Da brecha para o autor desenvolver bem as respostas ^^
Enfim, interessante esse livro. Diferente.

Beijão! ^^
Ni

Julia G - 15, novembro 2011 às (16:53)

Engraçado notar como o Breno gosta do clássico. Gostei muito das respostas dele, e notei uma certa compulsão por “Marta”, no momento. Curioso.

Mi, ótima entrevista. Beijinhos

Andressa Tomaz - 16, novembro 2011 às (12:49)

Oi Aione!
É uma pena que o Breno não tenha mais nenhum projeto né? Marta foi tão bem escrito!
Não consigo imaginar uma Marta real, acho que pelo final da história, mas é legal saber que foi inspirada em alguém né?

Beijos!

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