[Livros Na Telona] O Retrato de Dorian Gray - Oscar Wilde - Minha Vida Literária
Minha Vida Literária
23

maio
2012

[Livros Na Telona] O Retrato de Dorian Gray – Oscar Wilde

Sobre o Livro

Título: O Retrato de Dorian Gray
Autor: Oscar Wilde
Editora: Martin Claret
Número de Páginas: 177
Ano de Publicação: 2009
Skoob: Adicione
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Há muito eu queria ler O Retrato de Dorian Gray, um livro que certamente faz parte daqueles que devem ser lidos pelos bookaholics – e que agora posso confirmar tal fato.
Ainda que a escrita de Oscar Wilde não seja das mais fáceis, fazendo uso, por vezes, de palavras não tão usuais, sua escrita é surpreendentemente fluida. Digo isso porque a maioria dos clássicos, ainda que agradáveis, costumam ser leituras mais lentas, exatamente por causa da diferente linguagem. Entretanto, havia momentos em que eu mal percebia o tempo passar, de tão imersa no livro eu ficava. Foram poucos as vezes que a leitura pareceu arrastada, mais cansativa.
O Retrato de Dorian Gray é, ao mesmo tempo, sombrio e irônico. Ambas as características, entretanto, são sutis, não tornando a obra carregada em momento algum. Além disso, a história é completamente reflexiva, recheada de quotes incríveis e igualmente reflexivos. Aliás, tal característica é, também, uma qualidade de seus personagens e é através de seus pensamentos que nos vemos refletindo com eles.
“E quanto a crer nas coisas, eu creio em todas elas, desde que sejam incríveis.”
página 17
“Era quase com uma alegria cruel – a crueldade não tem o seu cabimento em toda alegria, como em todo prazer? – que ele lia a última parte do volume; e fazia a sua bem trágica e meio enfática análise, sobretudo quando considerava a tristeza e o desespero daquele que perde o que nos outros e no mundo já havia mais sinceramente apreciado!”
página 125
As três personagens principais são distintas entre si. O pintor Basil Hallward é um romântico, que vive a arte acima de tudo. Vive-a e a sente de tal maneira que elas se fundem e se dirigem ao jovem Dorian Gray e é nele que o pintor encontra o ápice de seu talento. Não pude deixar de notar que a afeição de Basil para Dorian parece ir além da arte e da amizade. Assim, ao verificar que Oscar Wilde teve, em vida, diversos relacionamentos homossexuais, sendo, inclusive, preso por isso (fonte aqui), acredito que o autor tenha colocado um pouco de si nesse personagem. Já Lord Henry é um dos personagens mais marcantes do livro: é sarcástico, egocêntrico, hedonista ao extremo. Representa um dos principais fatores para que Dorian Gray seja corrompido. Por fim, o jovem Dorian Gray. Ele, que começa ingênuo e dono de uma estupenda beleza,  torna-se  um ser sombrio, discípulo de Lord Henry no que diz respeito a ser egocêntrico e hedonista.
Um ponto negativo que tenho a ressaltar não diz respeito a obra em si, mas a sua publicação. Faço uma observação à editora: há dois trechos descritos que estão em outros idiomas (um em inglês, parte da peça Romeu e Julieta, de Shakespeare, e o outro em francês, parte de Emaux et Camées, de Gautier) e não há nenhuma nota com a tradução de ambos. Acho que seria interessante se houvesse, porque, ainda que o inglês  seja mais facilmente compreensível pela maioria das pessoas, o francês dificilmente o será, já que é um idioma menos difundido no Brasil do que o outro. Esse trecho eu pulei completamente durante a leitura, porque meu francês se resume a “Bonjour“.
De modo geral, O Retrato de Dorian Gray não foi uma leitura fácil, tanto pela sua escrita quanto pelo seu conteúdo reflexivo e sombrio, mas não se fez cansativo ou lento. É uma leitura altamente recomendada, mas acredito que seja necessária uma prévia vontade para que possa ser aproveitada. Não é um livro comum e, talvez, não seja indicado se você não gosta de livros mais reflexivos, escrito com uma linguagem mais requintada.
Sobre o Filme

O filme é um ótimo exemplo da palavra “adaptação”.

A ideia básica da obra de Dorian Gray foi mantida, bem como alguns poucos trechos, cenas e diálogos da história. Porém, de um modo geral, o enredo ganhou cenas próprias e é bastante diferente do livro.
Para começo de conversa, o filme foi bem mais sombrio que o livro, isso porque têm cenas muito mais explícitas e dignas de um filme de terror  (não no sentido de causar medo, mas sim repulsa) do que a leitura proporciona. Diria que essa é mais sutil em tudo, até mesmo para mostrar a corrupção de Dorian. Já o filme escancara as cenas e não tem pudor algum em apresentar o lado libertino e cruel do protagonista, mais subentendidos no livro do que realmente descritos.

Ainda, são três os fatores principais na versão de Oscar Wilde para corromperem Dorian: o quadro de Basil, a influência de Harry e um livro, presente de Harry para Dorian. Nas telas, entretanto, há uma leve modificação, a começar pelo livro, que nem ao menos existe no enredo. No que diz respeito ao quadro e à influência de Harry, eles são presentes na trama, contudo o papel de Harry me pareceu diferente. Enquanto no livro ela se mostrou muito mais uma influência mesmo, já que Dorian se encantou pela maneira de Harry enxergar o mundo e se deixou levar pelos princípios do amigo, no filme parece que há um interesse maior no homem em corromper o jovem. Achei-o muito mais cruel do que no livro, sendo que nesse ele apenas me pareceu hedônico e egoísta.
Por fim, a alteração mais significativa, em minha opinião, foi com relação ao papel do quadro em si nas duas versões. Não poderei entrar em detalhes para não soltar spoilers, mas diria que ocorrem modificações na pintura tanto no livro quanto no filme. A diferença está que, no livro, não há uma certeza de que elas realmente ocorram, uma vez que as vemos apenas pela  visão de Dorian. Talvez ele seja o único que as enxergue, resultado de uma perturbação psicológica.  Elas são subjetivas no livro. No filme, porém, elas são visíveis para qualquer pessoa e o motivo para que ocorram é realmente digno de um filme de terror, diminuindo em muito a carga reflexiva do papel da pintura. Diria que tal modificação ocorreu para dar um motivo mais palpável ao fato, já que, no livro, a história tem um cunho mais filosófico. Talvez isso não funcionasse bem para o filme.

Sobre os atores, diria que as escolhas foram excelentes. Não é de hoje que aprecio o talento de Colin Firth e vê-lo como Harry foi apenas mais um trabalho seu que me agradou, ele deixou bem claro a índole e os valores do personagem. Ben Barnes, no papel de Dorian Gray, também esteve excelente. É nítida a diferença do protagonista no início da história, dono de uma doce ingenuidade, que se transforma ao longo dos fatos. Ben Chaplin, no papel de Basil, foi o único que não me agradou muito. Achei que faltou transparecer a paixão e a alma de artista tão bem exprimidas no livro.
Muitas outras alterações ocorreram. Há personagens que aparecem no livro e não são mencionados no filme e vice-versa, além de muitos fatos ocorrerem de maneira diferente na adaptação. Diria que ela é uma boa pedida para os que gostam de filmes de terror, mas não se compara ao livro em termos reflexivos. Nesse ponto, arrisco a dizer que o filme perdeu um pouco da essência da obra de Wilde e, por isso, recomendo a leitura ainda mais do que recomendo o filme.

Confira o Trailer do Filme




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27 Respostas para "[Livros Na Telona] O Retrato de Dorian Gray – Oscar Wilde"

Marcelo Lima - 23, maio 2012 às (21:43)

eu comecei a ver o filme e não era o dia certo e parei.. tenho que tentar ver de novo,já o livro me intriga mais , quem sabe um dia eu acebe lendo.

Jonathan Henrique - 23, maio 2012 às (22:09)

Oi, Mi! Li esse livro no ano passado e, inclusive, foi a mesma edição que você. Na época, achei a escrita de Wilde um pouco rebuscada – reflexo da época e do próprio estilo do escritor. No entanto, a leitura foi muito prazerosa e surpreende. Fiquei com muita vontade de relê-lo!
Quando ao filme, pelas críticas que li, sei que não foi tão bem aceito, mas quero vê-lo quão breve possível. Tenho interesse nas outras adaptações – a de 2004, com o ator Josh Duhamel; e a versão “Dorian Gray – Pacto com o Diabo”.
Mi, suas análises ficaram excelentes. Fiquei com vontade de reler o livro, agora.
Beijos!
@Jonathan_HGF

Lili - 23, maio 2012 às (22:50)

Eu gosto muito de Oscar Wilde, e também da história do imortal Dorian. É uma história muito triste para mim, e que eu sempre fico refletindo sobre alguns aspectos da mesma.
Também curto outras adaptações feitas com base na obra de Oscar Wilde.

O filme foi do meu agrado, embora eu confesse que não foi um daqueles filmes memoráveis.

Com relação a partes do texto em outras línguas, isso é bem comum em alguns livros. Vários autores britânicos tinham o habito de colocar trechos em outras línguas (creio que sem tradução em parte alguma) e isso acaba se mantendo na nossa tradução.
Lembro de como comentei essa semana com minha tia lendo o livro de Poirot que depois que aprendi francês, ficou mais divertido ler clássicos britânicos. Agora posso comprender as entrelinhas (mas volta e meia vem algo em alemão e etc, e aí a coisa fica braba).
liiescreve.blogspot.com

Lucas Martins - 24, maio 2012 às (00:05)

Já assisti ao filme, Mi, mas, infelizmente, antes de ler o livro.
Eu tive o livro, mas ficou tanto tempo mofando na estante, que dei à um amigo, que com certeza fará melhor proveito.
Tenho curiosidade de conhecer as obras do Wilde, tem esse clima irônico mesmo, coisa que adoro.
Eu não gostei tanto do filme, enquanto produção cinematográfica. Agora, quando eu ler o livro, vou poder assisti-lo com outros olhos, aí sim, criticá-lo.
Beijão, Mi!

Natalia Dantas - 24, maio 2012 às (00:20)

Oi MI!
Ainda não li o livro nem assiti o filme, mais devem ser ótimos ^^

Beijos :*
Natalia. http://www.musicaselivros.blogspot.com.br/

Mari ♥ - 24, maio 2012 às (01:13)

Oi Mi,
Estou como a Natalia Dantas, não li nem assistir, mas tenho curiosidade e acho que deve ser ótimas rs.
Beijos

JennyCullen - 24, maio 2012 às (03:50)

Eu comecei a assistir esse filme,mas eu estava sozinha e era quase meia noite,e eu sou muito medrosa,entãão…#semcomentarios ¬¬
Já tinha visto algumas pessoas darem pontos negativos para o filme,e apesar de eu amar o ator principal(abafa…*-*),eu desisti de assistir.Pelo menos até eu poder ler o livro,por que é sempre melhor.
Então,amei a matéria,me deu uma ideia geral da estória,e um empurrãozinho pra (tomar vergonha na cara e) comprar o livro.
Já está na lista de desejos!

Bjonesss :*

Vanessa - 24, maio 2012 às (10:35)

Olá Aione 😀
Eu não li o livro e nem vi esse filme ainda, mas tenho muita vontade *-* O pessoal fala muito bem dele. Adorei o post. E sobre Deslembrança, é bonitinho e legal, mas só isso sabe? Por isso a nota três, meu coração não me permitiu dar nota quatro :/ UASHAUSHUASHAU

Beijos, Vanessa.
This Adorable Thing

Vanessa - 24, maio 2012 às (13:06)

Já baixei este filme para olhar mas inacreditavelmente ainda não consegui ver…já ouvi falar muito bem sobre o livro e o filme.

Flor, sorteio do livro POBRE NÃO TEM SORTE lá no Balaio:
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Vanessa – Balaio

Danzinha - 24, maio 2012 às (13:32)

Oiie Mi,

Ainda não li esta obra, mas, muita gente me fala que é realmente muito boa. Adore a sua resenha – como sempre – me deixou bem curiosa, não sei se estou no momento para estórias filosóficas, mas, assim que este momento chegar com certeza lerei este livro. Também não vi a adaptação e só pretendo assisti-la após o término da leitura.

Beijos

Amigas entre Livros

Andressa Tomaz - 24, maio 2012 às (14:07)

Oi Mi!
Também nunca li o livro de Dorian Gray, por nunca ter tido oportunidade. Estava querendo aquela versão bilíngue da editora Landmark, que apesar de ter a capa do filme, é linda!
Não sabia muito sobre o que se tratava a história e fiquei bem curiosa agora. Principalmente por ser bem fluída, coisa que não vemos muito nos clássicos justamente pela linguagem.
O filme imagino que seja ralo, não sei porque. Gosto muito do ator que faz o personagem principal (não só por ser um belo colírio), mas nunca temos aquilo que desejamos né?

Beijos!

Sofia - 24, maio 2012 às (14:21)

Não vi ambas ainda, e também não tenho grande interesse, não sei bem por que, talvez não tenha me conquistado totalmente… Beijos

Esmalte de Morango - 24, maio 2012 às (16:22)

Oi Mi!
Bom, não sei se leria o livro, por não fazer muito meu estilo, mas gostei muito do que você falou. *-*
Adoro quando um filme é bem adaptado… o leitor fica orgulhoso. haha
Não brinca comigo! O Dorin na adaptação é o Ben Barnes? *O* Hahaha

Beijão, Meire.
http://manialiteraria.blogspot.com/

Wendell Carvalho - 24, maio 2012 às (17:10)

Já tive bastante vontade de ler esse livro, a história dele me chamou bastante atenção, porem literatura clássica não faz o meu tipo.

Talvez depois de ver o filme eu me interesse mais ainda.

Beijos

Lygia Netto - 24, maio 2012 às (17:11)

Esse foi o filme assistido no primeiro dia do ano, hahaha! Virei o Ano Novo assistindo Barnes ser BRILHANTE no filme. E SIM, o filme causa repulsa…apesar de sinistro, assisti até o final. Os atores atuaram mt bem. Já tinha ouvido falar da história de Wilde e era super curiosa para saber mais sobre.

Não posso falar do livro, pq ainda não li, apesar de ter vontade. Mas sinto que a linguagem rebuscada vai acabar tornando a leitura enfadonha e evocar os sentimentos que tenho quando lido alguns dos clássicos brasileiros, tal qual Machado de Assis 😛

Essa questão de não tradução dos trechos é tensa neh? Não sei se traduziram da obra original…enfim!

Beijos, Aione! Adorei particularmente essa análise! =)

Priscilla Duhau - 27, maio 2012 às (02:23)

Amei demais as descrições que você deu tanto do livro, quanto do filme. Eu ainda não assisti o filme (nem sei bem porque), mas li o livro e você descreveu ele com perfeição!
Fiquei com ainda mais vontade de assistir o filme e ver todas essas diferenças por você citadas, principalmente a do quadro e da importância dele em toda a trama.
Enfim, Mi, ótimo post! Digno de um prémio!

Beijão ♥
Priscilla Duhau
Livrificando

Alinne - 27, maio 2012 às (16:50)

Já assisti ao filme e adorei.É muito diferente e interessante.
Quanto ao livro ainda não li e nem sei se o lerei, pois não gosto muito de clássicos e como este possui o mesmo tipo de linguagem, creio que eu acabaria ficando entediada.rs
Beijos.

Julia G - 28, maio 2012 às (16:26)

Oi Mi, eu tenho alguma vontade de ler o livro, mas não sei se iria gostar.. Acho que quando há essa carga negativa e sombria, a leitura me afeta de tal forma que às vezes prefiro não ler. O filme, só assistiria se lesse o livro e gostasse; não por preconceito, mas apenas para não começar pela forma contrátia e perder a vontade de ler o livro.

Beijos

Cris Aragão - 02, junho 2012 às (00:01)

Eu já li o livro e adorei, realmente é uma leitura que prende a atenção e apesar da linguagem ‘antiquada’ não é uma leitura dofícil. É espantoso notar o quanto uma pessoa pode se corromper. Quanto ao filme, eu não assisti mas apesar de o livro não ser uma história de terror, eu acho que a ideia se presta bastante a isso, e como muitos filmes modificam muito mais a essência dos livros, afinal é uma adaptação, não acho muito grave que isso ocorra.

IlanaPrudente - 04, junho 2012 às (19:52)

Assisti o filme por acaso, mas não li o livro. Pareceu-me bastante interessante e talvez até mais. Se seguir a regra, o livro é SEMPRE melhor que o filme. Vou ler, com certeza!

cristiane - 06, junho 2012 às (22:09)

Nossa, eu quero ver esse filme Oo caramba, que demais. E ele me é familiar…mas não lembro porque :s onde já vi isso?….Vishi, é familiar.

Isabela - 08, junho 2012 às (17:37)

Nao gosto quando mudam personagens (adicionando, retirando) eh bem chato.

Chrysthie Audi - 29, junho 2012 às (13:09)

Olá
eu decididamente sou apaixonada pelo Oscar Wilde, portanto nem tenho palavras para dizer o quanto fico feliz quando encontro alguém que também gosta…

Super feliz

Beijos
Chrys

Pedro Garcia - 29, junho 2012 às (16:20)

Amo esse livro de paixão! Tua resenha é belíssima.

Adriele Santana - 01, julho 2012 às (08:52)

Adorei a sua resenha.

Ainda não consegui ler o livro… mas tenho muita vontade de ler.
Já assisti o filme 3 vezes e todas as vezes eu acho o filme mais intrigante, achei a atuação do ator que faz o Dorian ótima.

Beijos!

Fernanda - Trilhas Culturais - 01, julho 2012 às (14:22)

Eu vi o filme e não gostei nada, não sei se o livro iria me interessar. Quem sabe eu goste do livro e não do filme…

Anonymous - 07, novembro 2012 às (10:10)

Meu tcc está sendo sobre esse livro, não achei a leitura difícil, só acheo o filme um pouco contaditório ao livro. Mas Oscar Wilde, não é para qualquer leitor, tem de ter amor e muita reflexão para entendê-lo.

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