É engraçado pensar sobre a ação do tempo em nossas vidas.
Recentemente, li Sisterhood Everlasting, quinto livro da série A Irmandade das Calças Viajantes, separado de seu antecessor por 10 anos de diferença. Ainda que a essência de suas personagens tenha se mantido, tudo está diferente em suas vidas. Até o estilo desse livro – o único da série que não se passa exclusivamente no verão – difere dos primeiros.
Não precisamos pensar em tanto tempo assim, afinal, 10 anos realmente é muito tempo. Talvez um melhor exemplo esteja em Um Dia, de David Nicholls, no qual cada capítulo é separado do outro pela diferença de um ano. Você termina um, e o capítulo seguinte não é o próximo instante ou o próximo dia – é o próximo ano. E ai as diferenças ficam muito mais explícitas. Nem tanto tempo passou, mas muita coisa pode ter mudado.
E foi fazendo essa análise em minha própria vida que comecei a delirar. Há dois anos, eu era uma pessoa. Há um, eu era outra. Hoje, sou uma terceira. E jamais deixei de ser eu mesma.
A cada dia, descubro uma nova faceta em mim: pode ser um novo gosto, pode ser uma nova característica, pode até ser algo que antes eu adorava e, de repente, já não tem o mesmo sabor. A vida ao meu redor vai mudando e vou mudando junto com ela.
Já dizia Raul que é preferível ser essa metamorfose ambulante, mas, venhamos e convenhamos, não é nada fácil mudar. Aliás, as partes novas da mudança são sempre excitantes. É aquilo que deixa de ser o que me assusta.
Por mais medo que eu sinta de novas situações – e quem é que não o sente? -, elas, de certa forma, também me empolgam. Sempre fui sonhadora demais para não começar a imaginar todas as possibilidades que elas trazem, tudo de bom que pode acontecer. Porém, como uma típica frase que circula pelo Facebook, coisas novas só chegam em sua vida quando você se desfaz das antigas.
Deixar de gostar com a mesma intensidade de uma música não tem lá grande problema, afinal, é só uma música. Mas e quando você muda hábitos e gostos a ponto de isso influenciar suas relações com o mundo? Aquilo que você fazia de repente não quer mais fazer, e nem todo mundo compreende por que você está diferente. Nem você, as vezes, entende isso.
Se desprender de hábitos e opiniões em nossa jornada é completamente natural, mas nem todo mundo encara isso com facilidade – e eu me incluo nesse todo. Para alguém que gosta de rotinas, de planejamentos, que não lida bem com a mudança de planos, a mudança de vida é difícil de ser aceita. Penso, reluto, nego, procuro explicações, penso muito mais. Até que aceito e deixo a vida me levar.
Um dia desses estava pensando sobre um perfume que comprei nesse ano. Eu fiquei doida por ele quando o senti em uma colega, a ponto de eu logo querer um para mim. Contudo, bastou eu usá-lo na primeira vez para ficar enjoada, e hoje em dia mal posso sentir o cheiro dele.
O perfume, entretanto, continuou o mesmo. Quem mudou fui eu.
Nós temos o direito de mudar, e é ótimo que mudemos. E se pelo caminho muita coisa ficar para trás, que saibamos entender que, para tudo, há um momento. Uma roupa pode ser a sua favorita até que não caiba mais em você ou seu gosto mude. Isso não muda o fato dela um dia ter sido sua favorita, só hoje não combina mais com a pessoa que você é.
A chave, talvez, seja deixar de encarar tudo isso como um problema, porque é o que eu costumo fazer. Não significa ter um problema se você deixou de gostar de algo ou estar com um problema para tudo ter mudado. Você só não está mais aonde estava anteriormente. Afinal, a vida segue. E a gente segue com ela.
Ai que texto lindo e verdadeiro, Mi!
Estou numa fase de mudança – tanto literal quanto subjetivamente – então suas palavras foram muito bem vindas e certeiras.
Beijos,
Ceile.