Título: A Escolhida
Autor: Lois Lowry
Editora: Arqueiro
Número de Páginas: 192
Ano de Publicação: 2014
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Kira, uma órfã de perna torta, vive em um mundo onde os fracos são deixados de lado. A partir do momento da morte de sua mãe, ela teme por seu futuro até que é perdoada pelo Conselho de Guardiões. A razão é que Kira tem um dom: seus dedos possuem a habilidade de bordar de forma extraordinária. Ela supera a habilidade de sua mãe, e lhe cabe a tarefa que nenhum outro membro da comunidade pode fazer. Enquanto seu talento a mantêm viva e traz certos privilégios, ela percebe que está rodeada de misterios e segredos, mas ninguém deve saber sua intenção de descobrir a verdade sobre o mundo.
Depois de ter devorado e adorado O Doador de Memórias, de Lois Lowry, estava mais do que ávida para sua continuação, A Escolhida, tanto para novamente me encantar com a escrita e as metáforas da autora quanto pelo próprio final do primeiro livro, um tanto quanto aberto e capaz de deixar qualquer leitor louco de curiosidade.
“Tremeu levemente de medo. O temor sempre fizera parte da vida das pessoas. Por causa do medo, elas construíam abrigos, buscavam comida e plantavam hortas. Pelo mesmo motivo, armazenavam armas, precavidas. Havia o medo do frio, da doença, da fome, das feras.
E foi o medo que a impulsionou naquele momento, apoiada em seu cajado. Ela lançou um último olhar para o corpo sem vida que um dia abrigara sua mãe e perguntou-se aonde poderia ir.”
página 6
No segundo volume da série O Doador, temos um novo ambiente e personagens diferentes do primeiro livro. Sendo assim, continuarei curiosa sobre a história de Jonas, visto que, até onde entendi, apenas no quarto e último livro teremos um fechamento dos universos criados pela autora, interligando os enredos dos três primeiros livros.
Dessa vez, acompanhamos a história de Kira, uma garota nascida com uma deficiência na perna e com habilidades incomuns para bordar. Após perder a mãe, acaba sendo designada para a tarefa de reconstruir uma túnica na qual é contada a história do mundo em que vivem.
O interessante desse universo é ser regido por uma espécie de Lei de Darwin: nele, apenas os mais fortes sobrevivem. Contudo, a seleção ocorrida está longe de ser natural. Sendo assim, o fato de Kira ter sobrevivido ao nascer, por proteção de sua mãe, culminou em um crescimento repleto de desprezo vindo de sua comunidade, que a julga inútil, e que apenas piora quando a garota se torna orfã. Outra característica desse mundo se encontra nos nomes dos habitantes: ao nascer, os nomes das crianças são compostos por apenas uma sílaba e, conforme o passar dos anos, novas sílabas vão sendo acrescentadas.
Da mesma maneira que em O Doador de Memórias, não temos explicações sobre o universo futurista em questão ou uma apresentação direta de como ele se constitui. Conforme a história é desenvolvida, tais características são apresentadas indiretamente e o leitor vai se situando aos poucos sobre esse novo cenário. Também, novamente temos personagens que desconhecem as verdades de sua própria comunidade e que acreditam existir apenas o ambiente onde vivem. Sendo assim, mais uma vez é compreensível a “falta” de informações dadas ao leitor; é impossível que saibamos aquilo que as próprias personagens desconhecem.
Contudo, diferentemente de meu primeiro contato, A Escolhida acabou me proporcionando uma leitura superficial, sem grandes envolvimentos com a personagem e a trama como um todo. Acima de tudo, senti falta do maravilhamento causado por O Doador de Memórias, sobretudo pelas tantas metáforas que o primeiro propiciou. Talvez, como não consegui me aprofundar na leitura, posso ter perdido tais analogias. Ainda assim, achei essa trama e a escrita da autora mais rasas do que no primeiro, mesmo que a leitura seja novamente fácil, rápida e fluida.
Os últimos capítulos conseguiram prender totalmente minha atenção. Embora a maior parte dos acontecimentos e revelações já fossem esperadas por mim, ainda assim fiquei presa à trama e às suas resoluções, conseguindo captar nuances até então despercebidas por mim. Lois Lowry deixou claro como mais essa sociedade distópica em muitos aspectos se assemelha a características de nossa própria, principalmente no que diz respeito à busca desenfreada pelo poder e pelo domínio. Também, a autora deixou uma tênue linha capaz de interligar esse livro ao primeiro e dando uma pequena noção de como serão conectados aos próximos volumes.
“- Como poderia mudar? É como as coisas são. Os pequenos aprendem desde cedo a agarrar as coisas e empurrar os outros. É a única maneira que as pessoas têm de conseguirem o que querem.”
páginas 177 e 178
Ainda que o livro como um todo tenha ficado aquém das expectativas deixadas pelo primeiro volume, novamente finalizei a leitura ansiosa pelos próximos volumes. É inegável a capacidade de Lois Lowry de criar universos diferentes tão únicos e, ao mesmo tempo, baseados em uma mesma triste realidade, como uma boa distopia deve ser.
Uma pena que A Escolhida não foi tão bom quanto O Doador de Memórias, mas se a autora continua com sua ótima escrita e nos deixando ansiosos pela continuação, com certeza vou ler.
Excelente resenha! Bjs, Mi <3