Título: Vá, coloque um vigia
Autor: Harper Lee
Editora: José Olympio
Número de Páginas: 252
Data de Publicação: 2015
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Jean Louise Finch, mais conhecida como Scout, a heroína inesquecível de O sol é para todos, está de volta à sua pequena cidade natal, Maycomb, no Alabama, para visitar o pai, Atticus. Vinte anos se passaram. Estamos em meados dos anos 1950, no começo dos debates sobre segregação, e os Estados Unidos estão divididos em torno de questões raciais. Confrontada com a comunidade que a criou, mas da qual estava afastada desde sua mudança para Nova York, Jean Louise passa a ver sua família e amigos sob nova perspectiva e se espanta com inconsistências referentes à ética e a pensamentos nos âmbitos político, social e familiar.Vá, coloque um vigia é o segundo romance de Harper Lee, mas foi escrito antes do mítico O sol é para todos, que recebeu o Prêmio Pulitzer em 1961. Este livro inédito marca o retorno, após 65 anos de silêncio, de uma das maiores escritoras americanas do século XX.
O Sol É Para Todos é um dos grandes clássicos modernos de língua inglesa, sendo considerado pelo Library Journal como o melhor romance do século XX, e um dos melhores livros que já tive a oportunidade de ler. Após quase 60 anos de sua publicação, foi anunciado em 2015 o lançamento de Vá, coloque o vigia, escrito por Harper Lee na década de 50, anteriormente ao seu outro grande sucesso, porém nunca publicado – por desejo da própria autora.
Aqui, encontramos os mesmos personagens de O Sol É Para Todos, contudo 20 anos após os eventos desse. Dessa maneira, Vá, coloque o vigia, em um primeiro momento, pode ser considerado como uma espécie de continuação, inclusive por citar eventos de O Sol É Para Todos. Entretanto, ao avançar da leitura, fica nítido não só que esse não pode ser encarado como uma sequência como também a hipótese de que Vá, coloque o vigia serviu de base para a criação de O Sol É Para Todos, ainda que ambos sejam estruturados de maneiras diferentes.
“Se fosse mais perspicaz, se tivesse sido capaz de romper as barreiras de seu mundo insular e altamente seletivo, talvez tivesse descoberto que tivera desde sempre um defeito de visão que passara despercebido a ela e aos mais próximos: era incapaz de distinguir as cores.”
página 113
Jean Louise, a eterna Scout, agora com 26 anos, retorna a Maycomb para visitar seu pai, Atticus Finch. Durante a viagem, começa a perceber que, talvez, tudo aquilo que aprendeu e sempre acreditou podem não ser verdade, e passa a questionar não apenas suas próprias convicções como também as daqueles que a cercam. E a força da história esteve, para mim, justamente nesse ponto.
Em Vá, coloque o vigia também temos o preconceito como um dos assuntos centrais da obra e é justamente esse o motivador da revolução interna de Scout. Contudo, diferentemente de O Sol É Para Todos, perde destaque para o amadurecimento da protagonista, não tendo, assim, a mesma força que apresenta na outra obra de Harper Lee – um dos motivos que me levaram a crer que a autora repensou Vá, coloque o vigia e, a partir disso, escreveu O Sol É Para Todos. De qualquer maneira, as questões levantadas por Scout são de extrema relevância e tão atuais quanto em O Sol É Para Todos.
“Se um homem diz ‘essa é a verdade’ e você acredita, mas depois descobre que é mentira, fica desapontada e toma cuidado para nuna mais ser enganada por ele. Mas quando você se decepciona com um homem que sempre se pautou pela verdade – e em cuja maneira de encarar as coisas você acreditava -, você não fica apenas ressabiada, fica sem nada.”
página 166
Também, é importante destacar os pontos relevantes na afirmação de que Vá, coloque o vigia não pode ser considerado uma sequência da outra obra de Harper Lee. Em primeiro lugar, o grande caso em torno do qual se desenvolve O Sol É Para Todos é citado em Vá, coloque o vigia como um evento passado, contudo com diferenças significantes em como se deu no outro livro, inclusive com relação ao próprio fechamento do caso. Assim, é possível identificar que a autora modificou o rumo dessa história em particular, visto que é muito mais coerente com a mensagem trabalhada a forma em que acontece em O Sol É Para Todos. Em segundo lugar, logo nos primeiros capítulos de Vá, coloque o vigia temos a informação de que Jem, irmão de Scout, faleceu há alguns anos, mas sem grandes aprofundamentos sobre o fato, apenas alguns poucos detalhes. É verdade que o personagem volta a aparecer conforme Scout relembra acontecimentos de sua infância e adolescência em Maycomb, porém, sem mais ênfases para um personagem que foi tão importante em O Sol É Para Todos. Se Vá, coloque o vigia fosse, de fato, uma continuação, esse ponto teria que ser abordado de outra maneira, considerando-se que os leitores teriam se apegado a Jem no primeiro livro. Por fim, o próprio Atticus Finch, célebre personagem em O Sol É Para Todos, não tem o mesmo carisma em Vá, coloque o vigia, além de uma personalidade sutilmente diferente da apresentada no outro livro. É claro que parte dessa diferença pode ser considerada pela forma em que Scout vê o próprio pai nos dois livros; a partir do momento em que ela o enxerga de um jeito diferente, uma vez que Finch é, de certa forma, “humanizado” em Vá, coloque o vigia, assim o verá também o leitor, já que os fatos são narrados pela visão de Scout – em primeira pessoa em O Sol É Para Todos e em terceira, em Vá, coloque o vigia. Entretanto, para mim, as diferenças vão além disso, como se a autora tivesse repensado o personagem e suas características ao escrever O Sol É Para Todos. Atticus Finch é, indiscutivelmente, admirável e inesquecível no grande clássico; em Vá, coloque o vigia, apenas alguém de certa notoriedade. Em minha experiência pessoal, acabei decepcionada com o personagem, considerando-se o quanto ele me conquistou no outro livro – algo, infelizmente, negativo em minha leitura.
Seria mentira dizer que Vá, coloque o vigia consegue atingir a qualidade e a grandiosidade de O Sol É Para Todos, visto que esse consegue ser muito mais profundo, emocionante e melhor desenvolvido. Entretanto, seria injusto não dar àquele seu devido valor; a revolução vivida por Scout é, no mínimo, extremamente sensível, trazendo ao leitor reflexões de inegável relevância, além de um novo ritmo à própria leitura, um tanto quanto lenta para mim até cerca de metade da trama. Sendo assim, considero Vá, coloque o vigia como um significativo complemento à obra de Harper Lee, que demonstrou nesse livro todo seu potencial que viria a ser elevado ao máximo na escrita de O Sol É Para Todos.
Aione,ainda não li O Sol é para todos ,quero muito ler e também essa outra obra da autora,que apresenta a personagem 20 anos após os eventos de O Sol é para todos.Legal a personagem fazer questionamento de suas convicções e também as daqueles que a cercam.Pena o personagem que foi tão importante em O Sol é para Todos,não mais ter enfase.O pai de Scout é visto por ela de forma diferente ,o que achei uma pena.Realmente pelo que você diz a autora deve ter repensado sobre o personagem.Realmente achei chato esse aspecto.Mil beijinhos!!!!