Título: O amor nos tempos do ouro
Autor: Adam Gidwitz
Editora: Marina Carvalho
Número de Páginas: 328
Ano de Publicação: 2016
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“Sabes que nunca me apaixonei, maman, mas se porventura o tivesse feito, seria por alguém como ele?”
Cécile Lavigne perdeu todos os que amava e agora está sozinha no mundo. Ela, uma franco-portuguesa que ainda não completou vinte anos, está sendo trazida ao Brasil pelo único parente que lhe restou, o ambicioso tio Euzébio, para casar-se com o mais poderoso dono de terras de Minas Gerais, homem por quem Cécile sente profundo desprezo. Após desembarcar no Rio de Janeiro, Cécile ainda precisará fazer mais uma difícil viagem. O trajeto até Minas Gerais lhe reserva provações e surpresas que ela jamais imaginaria. O explorador Fernão, contratado por seu futuro marido para guiá-la na jornada, despertará nela sentimentos contraditórios de repulsa e de desejo. Antes de enfim consolidar o temido casamento, Cécile descobrirá todos os encantos e perigos que existem nessa nova terra, assim como os que habitam o coração de todos nós. Com o passar dos dias, crescerá dentro dela a coragem para confrontar todas as imposições da sociedade e também o seu próprio destino.
Conheci a escrita de Marina Carvalho com a leitura de dois de seus chick-lits publicados pela editora Novo Conceito, e acabei me interessando por O amor nos tempos do ouro, seu mais recente trabalho, agora publicado pela Globo Alt, principalmente por parecer ser um tanto quanto diferente de suas demais obras: enquanto as primeiras lidas por mim são romances contemporâneos bastante leves e divertidos, esse é um romance histórico, situado no Brasil Colonial da primeira metade do século XVIII.
Aqui temos a história de Cécile, franco-portuguesa trazida às forças ao Brasil por seu tio, irmão de sua mãe, após a morte de seus pais e de seus irmãos, a fim de casá-la com o mais poderoso dono de terras de Minas Gerais, quem ela repudia, e, assim, garantir parte da herança da jovem, conforme o negociado com Euclides, futuro noivo de Cécile. E ao desembarcar no Rio de Janeiro, Cécile precisa seguir viagem sob os cuidados de Fernão, explorador contratado por Euclides, sem imaginar todas as descobertas que o trajeto – e o destino – reservam a ela.
Logo nas primeiras páginas do livro, temos uma nota da autora a respeito de suas bases históricas e licenças poéticas e fazendo diversas observações principalmente com relação à linguagem empregada, considerando-se o idioma falado no Brasil no período retratado (o português só foi adotado oficialmente após a vinda da Família Real para cá). Dessa maneira, já desde o início fica claro o trabalho de pesquisa da autora, bem como seu cuidado ao desenvolver a obra, ainda que tenha acrescentado um pouco de “fantasia” a algumas passagens.
Os capítulos são majoritariamente narrados em terceira pessoa, segundo a perspectiva de Cécile, podendo, também, trazer a visão de Fernão. Contudo, algumas passagens são escritas em primeira pessoa, principalmente por serem cartas e/ou páginas de diários das personagens, de forma a termos uma visão mais íntima e próxima daqueles que as escrevem nesses momentos. De qualquer maneira, independentemente de ser em primeira ou terceira pessoa, a narrativa é convidativa e bem construída, ora mais descritiva, ora mais intensa e emotiva, mesmo nas passagens escritas com certo requinte formal, o que inclusive ajuda a remeter à época da trama.
O que certamente mais me impressionou no livro foi a maneira de como Marina Carvalho o contextualizou. São diversas as figuras históricas presentes, bem como fatos e eventos, todos muito bem situados e entremeados ao enredo. Ainda que em meus tempos de escola eu não gostasse das aulas de História, foi interessantíssimo ver como a época escolhida pela autora foi retratada e como ganhou vida, principalmente por ser também difícil encontrarmos romances como esse, passados no Brasil Colonial, mesmo entre as obras nacionais.
De qualquer maneira, mesmo que a característica histórica certamente tenha chamado minha atenção, estaria mentindo se dissesse que não fui completamente conquistada pelas personagens e pela história por elas vivida. Cécile é uma das mocinhas mais fortes que conheci nos últimos tempos, e admirei sua garra, bem como seus princípios e valores, além de ter adorado seu amadurecimento na trama: no início, a jovem se vê perdida em seu próprio sofrimento, considerando-se todas as dificuldades por ela enfrentadas; porém, conforme vai tendo contato com um universo extremamente diferente do seu, pouco a pouco se abre para novas realidades e expande sua visão de mundo. Fernão, por sua vez, me conquistou por sua complexidade e vigor: mesmo já tendo feito muitas coisas das quais não se orgulha, motivado por seus momentos de vida nem sempre favoráveis, o explorador é alguém de caráter e fibra moral, além de completamente apaixonante. Foi impossível não torcer pelo casal, e não me encantar com a evolução dos sentimentos de ambos.
Merecem destaque, também, as personagens secundárias de extrema importância na trama, como Hasan, Malikah e Akin, escravos negros de Euclides, que não apenas cativam o leitor como fazem parte de um cenário completamente angustiante e vergonhoso de nossa história, retratado na trama principalmente pela perspectiva inconformada de Cécile sobre a escravidão e o tráfico negreiro para o Brasil.
Em linhas gerais, O Amor Nos Tempo Do Ouro é, de longe, o melhor trabalho de Marina Carvalho que já tive a oportunidade de ler. De suas antigas obras para cá, notei não apenas um amadurecimento de sua escrita como também no seu trabalho de criação; se antes elas já eram envolventes, agora é, além disso, mais bem trabalhada e construída, sendo capaz de informar, envolver e agradar os apreciadores de um bom romance, sobretudo os históricos.
Amei a resenha Aione, só me deixou mais curiosa para ler este livro. Adoro a escrita da Marina, e amo romance. Beijos.