Título: Um Acordo de Cavalheiros
Autor: Lucy Vargas
Editora: Bertrand Brasil
Número de Páginas: 350
Ano de Publicação: 2017
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Tristan Thorne, o Conde de Wintry, não é um homem para brincadeiras. Com uma vida de segredos, amado e odiado na sociedade, ele não é o parceiro ideal para uma dama. Dorothy Miller não sabe o que há por trás de suas motivações, apenas que ele é bastante intenso. Os jornais dizem que ele bebe demais, joga demais e ama escandalosamente. E até mata. Como uma dama determinada a ser dona do próprio destino como Dorothy Miller acaba em um acordo com um homem como Lorde Wintry? Você teria coragem de guardar um segredo com o maior terror dos salões londrinos? Lembre-se: Nunca faça acordos com ele, pois o conde sempre volta para cobrar.
Em sua estreia pela Bertrand Brasil, Lucy Vargas traz mais do que um romance de época erótico para os leitores de Um Acordo de Cavalheiros: mesclando uma leitura deliciosamente envolvente e cativante com pitadas de humor, mistério e drama, a autora garante uma obra digna do patamar de melhores do gênero que já tive a oportunidade de ler, capaz de transmitir uma mensagem incrível sobre o empoderamento sexual feminino.
Dorothy Miller é uma dama de reputação impecável. Ao menos, a reputação que todos conhecem. Órfã e dependente do tio, ela faz de tudo para continuar sendo bem-vista, principalmente porque sua prima mais nova, Cecilia, que acaba de debutar, está sob seus cuidados e depende dela para conseguir um bom contrato de casamento. O que ninguém sabe é que Dorothy guarda seus próprios segredos – e culpas -, responsáveis por ela continuar solteira, mesmo já tendo atingido a tardia idade de 26 anos. Até que ela acorda na cama de Tristan Thorne, o Conde de Wintry, o qual propõe a ela um acordo ainda mais surpreendente do que o fato dela já ter se permitido chegar tão longe com ele: que se tornem amantes.
Um Acordo de Cavalheiros já começa ganhando destaque em relação às demais obras do gênero: logo na primeira cena, temos Dorothy acordando ao lado do maior libertino da sociedade a qual ela pertence. Dessa maneira, não há a narração de como a química entre eles acontece, após ambos resistirem a ela (algo bastante comum em livros semelhantes). Não. Temos já a consolidação dessa primeira etapa e, então, o desenrolar dela, no qual acompanhamos o desenvolvimento da paixão e relação entre as personagens. Além do diferencial, o início inusitado da trama já antecipa uma de suas maiores características: Lucy Vargas escreveu uma história, sem dúvida alguma, extremamente moderna, ainda que ambientada em pleno século XIX.
“Quando estava com Tristan, ela gostava de sua nova faceta. Podia fingir que era livre e dizer o que tivesse vontade. E tinha seus próprios desejos e necessidades e não precisava se envergonhar disso, na verdade, tinha que se orgulhar de quem era. E especialmente do que vinha descobrindo sobre a mulher que era.”
pág. 162
É fato que muitas obras de época trazem a questão da sexualidade feminina como um de seus principais temas, apresentando mocinhas em descobrimento desse seu lado e desejando algo a mais do que um simples acordo matrimonial. Porém, ainda que essa temática esteja também presente em Um Acordo de Cavalheiros, é a maneira de como foi abordada que a torna especial. Lucy Vargas apresenta, na figura de Tristan Thorne, um homem completamente a frente não só deu sua própria época, mas, em muitos aspectos, de nossa própria. Ele faz parte do processo de aceitação de Dorothy sobre sua sexualidade e, acima de tudo, da noção dos direitos dela sobre seu próprio corpo, algo que ainda precisa ser discutido (e muito) em pleno século XXI. E mais do que o clichê do libertino que tem medo de se comprometer com alguém e prefere se afastar de qualquer envolvimento emocional, os motivos do Conde, aqui, são outros, capazes de trazer, ainda, mistério para trama e a sutil abordagem de assuntos de extrema importância na contextualização do rigor e severidade da época a qual abriga a história.
Não bastasse essa questão, a autora inova por não trazer a famosa fórmula do personagem redimido, que acaba sendo, de alguma maneira, modificado e salvo pelo amor que vem a sentir. A mensagem trazida em Um Acordo de Cavalheiros é muito mais real e próxima do verdadeiro significado do amor: o de se amar alguém como se é, quando o sentimento, mútuo, envolve tanto companheirismo quanto respeito entre ambas as partes.
“Era uma paixão, do tipo mais passageiro. Queimava incontrolavelmente por um tempo, depois ardia sobre as brasas e então passava com o vento e as chuvas de verão. Antes da próxima temporada já não haveria sinal da fogueira. E se mudasse de ideia agora, ela viveria eternamente nas cinzas. Só de olhar para ele, podia ver que não estava pronto para enfrentar o inverno, quando as portas e janelas se fechariam e viveriam ao redor da luz da lareira, sobrevivendo no calor que emanariam um para o outro. Porém, o arrependimento era tão gelado que nada os aqueceria. E então, ao final do inverno, estariam eternamente separados pelo frio da conveniência que se tornaria sua relação.”
pág. 191
Para a lista de qualidades de Um Acordo de Cavalheiros, está, sem dúvidas, a deliciosa escrita de Lucy Vargas. Em terceira pessoa, a autora desenvolve uma narrativa completamente envolvente e apaixonante, carregada de momentos de humor – foram várias as passagens em que me peguei rindo com os diálogos entre as personagens – e paixão. Nunca uma obra erótica se mostrou, para mim, tão romântica e intensa quanto as cenas aqui desenvolvidas. Mais do que descrições sobre os momentos a dois, Lucy Vargas explora sentimentos e emoções, trazidos a nós com uma sensibilidade ímpar.
Um Acordo de Cavalheiros saltou para minha lista de romances de época favoritos, que não deixa absolutamente nada a desejar a outras obras renomadas do gênero, incluindo no cenário internacional (e vale dizer que o livro de Lucy me agradou mais do que muitos outros trazidos de fora). Sendo uma história capaz de entreter e causar suspiros, indico aos admiradores do gênero sem pensar duas vezes.
Você já conseguiu cumprir uma de suas metas!
Ótima resenha, amei! Históricos muito bons também são Onze leis a cumprir na hora de seduzir e Volúpia de Veludo (adoro as irmãs Noirot, também são mulheres à frente de seu tempo), da Arqueiro.
Eu estou lendo “Minha vida não tão perfeita” e gostando; curiosa para saber o que vai acontecer a seguir na trama, mas, infelizmente, tenho de ir para a faculdade agora e parar a leitura!
Abraços,
Dandara