Sobre o Livro
Título: A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata
Título original: The Guernsey Literary and Potato Peel Pie Society
Autor: Mary Ann Shaffer & Annie Barrows
Tradução: Léa Viveiros de Castro
Editora: Rocco
Número de Páginas: 304
Ano de Publicação: 2009
Skoob: Adicione
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Não sabia o que esperar de um livro chamado A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata, mas desde que o recomendaram para mim, fiquei curiosa pela leitura. Essa curiosidade se intensificou depois da Netflix produzir o filme adaptado da obra de Mary Ann Shaffer e finalizada por Annie Barrows, sobrinha da autora e também escritora, que precisou terminar o trabalho da tia após Mary Ann ter adoecido.
A trama se desenvolve em 1946 e é toda desenvolvida pela troca de cartas entre os personagens que figuram o livro. Segundo a sinopse disponível no Skoob, “conta a história de Juliet Ashton, uma escritora em busca de um tema para seu próximo livro. Ela acaba encontrando-o na carta de um desconhecido de Guernsey, Dawsey Adams, que entra em contato com a jornalista para fazer uma consulta bibliográfica. Começa aí uma intensa troca de cartas a partir da qual é possível identificar o gosto literário de cada um e o impacto transformador que a guerra teve na vida de todos. As correspondências despertam o interesse de Juliet sobre a distante localidade e narram o envolvimento dos moradores no clube de leituras – a Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata –, além de servirem de ponto de partida para o próximo livro da escritora britânica.”
O que mais me surpreendeu em A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata foram as diferentes camadas que são construídas ao longo da leitura. Ao mesmo tempo em que essa é a história de uma autora em busca de seu próximo trabalho e que acaba tendo sua vida pessoal impactada em decorrência disso, essa é também uma história sobre a Segunda Guerra Mundial e sobre o poder da Literatura e das palavras na vida das pessoas. Nas cartas trocadas entre as diferentes personagens, temos relatos pessoais dos mais diversos episódios da Guerra, o que constrói uma ideia bastante vívida do que foi viver nesse período tão traumático da história; afinal, mais do que fatos, são contadas as impressões e consequências deixadas pelo conflito em cada um dos sobreviventes.
Não bastasse o panorama histórico interessar por si só, é a partir dele que surge um dos pontos mais belos da trama: o impacto da Literatura no homem. Foi na literatura que os membros da Sociedade Literária de Guernsey encontraram algum tipo de conforto para suportar os horrores da Guerra; é por causa da Literatura que Juliet conhece essas pessoas; é por causa da Literatura que, pouco a pouco, é construída uma relação entre elas. Assim, a escolha de Mary Ann Shaffer pelo formato narrativo epistolar se mostra extremamente acertada, porque é através de trocas de correspondências que as relações entre as personagens são criadas, acentuando a ideia da força contida nas palavras.
Embora a temática da Guerra seja delicada e muitas passagens sejam dolorosas, a leitura de A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata é leve por conta do tom divertido e perspicaz contido nas cartas. Acabei demorando mais do que imaginava para fazer a leitura, mas é inegável o quanto ela é tranquila e gostosa de ser feita, especialmente pela habilidade das autoras em delinear tão bem as personagens e situações por meio daquilo relatado nas cartas.
Em linhas gerais, finalizei A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata encantada por aquilo que li. Como apaixonada pelas Letras, foi impossível não me deliciar com tantas referências literárias ao longo da leitura nem me emocionar com a forte constatação do impacto da Literatura — e das artes como um todo — em nossas vidas, especialmente em momentos de dificuldade. Aqui, tudo é ainda mais agravado pelas dificuldades em questão estarem ligadas a um período tão sombrio como o de uma guerra mundial, o que faz do livro ainda mais relevante pelo panorama histórico desenvolvido. Esse é um livro sobre a Guerra, mas é também uma história sobre relações humanas. Acima de tudo, é uma obra sobre o poder da arte; especificamente falando, sobre o poder da Literatura.
Sobre o Filme
Pelo própria diferença entre mídias, a adaptação de A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata já perde um dos elementos principais do livro: sua narrativa epistolar, que reforça o tema da força das palavras presente na obra. Além disso, a própria conexão com a literatura é também atenuada, ainda que não seja ausente. Contudo, mesmo com esse aspecto minorizado, o filme consegue se sustentar por si só, especialmente por sua fotografia belíssima e tom comovente.
O enredo como um todo é mantido de forma bastante fiel, apesar de uma ou outra alteração, o que é natural em toda adaptação. As principais diferenças entre livro e filme, em minha perspectiva, estão centradas em três diferentes aspectos.
A primeira é a já mencionada ausência da narrativa epistolar. Ainda que haja algumas trocas de correspondência entre os personagens ao longo do filme, não é por meio delas que a relação entre eles se desenvolve. Assim, Juliet passa a conhecer os membros da Sociedade pelo convívio com eles, o que acarreta na próxima alteração que mencionarei.
Como passa a existir a convivência entre os personagens, é assim que também são criados os conflitos ao longo do filme. Se no livro os acontecimentos se desenvolvem de maneira mais passiva por causa do próprio afastamento proporcionado pelas cartas, no filme o contato direto de Juliet com os demais personagens altera a dinâmica da relação e o próprio plot do filme. A fim de se manter o suspense sobre um dos segredos da trama, as personagens precisam se mostrar mais reticentes sobre o assunto em questão e Juliet precisa ser mais incisiva para descobri-lo.
Por fim, é a própria atmosfera de cada uma das obras que também as difere. Apesar do livro trazer passagens tocantes, fiz a leitura sem ter me emocionado com ela, especialmente pelo tom bem-humorado da narrativa. O filme, entretanto, acaba sendo muito mais emocional e até mesmo mais melancólico, o que me fez ir às lágrimas em diversas cenas. Vale dizer que as passagens históricas com os relatos da Guerra são muito mais detalhadas, aprofundadas e variadas no livro, embora seja justamente esse o fator que mais me fez chorar no filme.
Mesmo tendo achado a adaptação de A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata diferente do original em alguns pontos, amei tanto o filme quanto o livro e recomendo ambos por suas singularidades.
Toda vez que eu vejo falar do título desse livro eu acho engraçado, bem peuculiar… queria entender o porque desse título (quem sabe lendo eu não descubra hahaha). Gosto desse tipo de tema, segunda guerra mundial, acho que essa troca de carta deixa mais leve a história … acho fascinante o poder da literatura numa época tão complicada da nossa história. Já adaptação para as telas eu nunca quero ver, salvo alguns, mas eu sou do contra e já nem quero nem olhar(sei que é preconceito meu ?).