Sobre o Livro
Título: Hoje Está Um Dia Morto
Autor: André de Leones
Editora: Record
Número de Páginas: 160
Ano de Publicação: 2006
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Vencedor do Prêmio SESC de literatura de 2005, Hoje Está Um Dia Morto é o romance de André de Leones publicado pela Editora Record há mais de uma década. Com uma narrativa ágil, o livro abarca o período de um dia na vida dos personagens em uma cidade do Centro-Oeste brasileiro.
Quem conta a história é Daniel, narrador-autor que assume escrever o que aconteceu com os jovens Jean e Fabiana mesclando os fatos dos quais teve conhecimento à sua própria imaginação, uma vez que seria impossível a ele saber com detalhes o que se passou entre os protagonistas. Apesar da voz de Daniel ser presente na narrativa, quase nada sabemos dele, já que ele se afasta de um envolvimento naquilo narrado: a história não é sobre ele. Ainda assim, aquilo que o leitor tem acesso sobre Daniel e a companheira Alanis é suficiente para demonstrar as semelhanças entre a vida dos dois com a dos personagens narrados.
É que a tristeza de e para Jean é algo desgraçadamente físico, está sob suas unhas, em sua boca, na ponta da sua glande, ela a sua, ele a engole, ele a traz consigo e para si, É DELE, ele se alimenta dela e ela dele, e ele sabe muito bem quem vai acabar primeiro.
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Hoje Está Um Dia Morto trata de vazios. A vida tediosa na cidade não permite grandes acontecimentos no dia-a-dia dos jovens, nem perspectivas de um futuro diferente. Os adolescentes, afastados inclusive de suas relações familiares, vivem mergulhados em angústias. Por isso, boa parte das cenas do romance retratam os encontros sexuais entre Jean e Fabiana, já que o sexo é basicamente tudo o que os conecta — até mesmo as conversas entre eles são precárias, demonstrando o pouco que há de comum entre os dois. O livro, também, é repleto de referências culturais, tanto musicais quanto literárias, já que é na arte que Jean e Fabiana encontram um mínimo de refúgio.
A linguagem atual de André de Leones é tanto capaz de captar a jovialidade dos personagens quanto os insere em um universo maior. As diversas construções que mesclam o português com expressões em inglês lembram o leitor que, por mais afastada que seja a realidade vivida pelos personagens, ela é uma parte inserida em um todo mais amplo: Jean e Fabiana fazem parte do mesmo mundo que habito, mesmo que nossas realidades de vida sejam totalmente diferentes.
É uma verdade física, uma sensação esgazeada e já muito gasta de morte em vida, de uma pequena morte escondida travessamente num quarto vazios de suas almas. Mas Fabiana sabe que não é o caso de dizer alma, e não o diz nem para si mesma.
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Ainda, a habilidade narrativa do autor proporciona uma imersão total na leitura, de maneira que há muita sensibilidade naquilo narrado. As angústias de Jean são palpáveis e a ideia do tédio constante surge desde o título. O “Hoje” garante uma presentificação que não se finda, uma vez que o advérbio criará referência temporal sempre no momento de elocução, fazendo com que “Hoje” possa ser qualquer momento no tempo. Ainda que ele se refira, na história, ao dia nela narrado, o que o título nos diz é que, naquelas condições, todos os dias são dias mortos.
Hoje Está Um Dia Morto foi uma das melhores leituras que realizei nos últimos tempos. No pouco mais das duas horas que durou minha leitura, vivi sentimentos contraditórios, já que tanto me deleitei com a narrativa primorosa de André de Leones quanto me entristeci com os acontecimentos contados. Ao finalizar o livro, me deparei com aquela sensação de assombro próxima da de um êxtase, somente possível quando somos verdadeiramente impactados e modificados por aquilo que lemos.
Sobre o Filme
Dias Vazios é, ao mesmo tempo, uma adaptação fiel e um tanto quanto diferente de Hoje Está Um Dia Morto. Apesar de trazer todos os acontecimentos presentes no livro e muitos de seus trechos narrativos, o filme contém pequenas modificações especialmente em seu tom.
A começar, não apenas o próprio título é diferente, quanto Dias Vazios traz uma mudança no protagonismo da história. Se no livro Jean e Fabiana são os personagens principais, na adaptação eles dividem o espaço com Daniel e Alanis, que aparecem como figuras muito mais sólidas do que na leitura em uma modificação fundamental para trazer a essência da obra de André de Leones. Muito do que acontece entre Jean e Fabiana é replicado com Daniel e Alanis, criando um paralelo entre eles a partir da repetição. Com isso, o diretor, Robney Bruno Almeida, tanto conseguiu manter a presentificação do título Hoje Está Um Dia Morto, despertando a sensação da continuidade de um tédio e de angústias que se repetem, quanto transmitiu a noção de que a história de Jean e Fabiana são narradas por Daniel, que insere em sua ficção elementos por ele vividos.
Também, o filme se destina a um público mais jovem do que o do livro. Assim, ainda que as cenas sejam fieis à leitura inclusive em relação aos encontros sexuais vividos pelos personagens e às diversas referências culturais, a linguagem utilizada é mais branda. Mais branda também em relação ao final: se o livro apresenta um fato, ainda que narrado de forma imaginada por Daniel, o que o filme demonstra é uma possibilidade, algo suposto pelo adolescente. Dessa forma, abre-se uma margem de esperança para a personagem em questão, cujo rumo de vida, desconhecido por nós, pode ter sido diferente daquele exposto.
Muitas das cenas de Dias Vazios enfocam a cidade de Silvânia, em Goiás, onde a história se passa. As ruas, sempre vazias, fazem da cidade uma quase personagem — como ela também o é no livro, apresentada logo em sua abertura — e intensificam a sensação de solidão vivida pelos jovens. Assim, por conta da própria atmosfera da história, o filme tem um desenrolar mais lento do que a leitura de Hoje Está Um Dia Morto, que ganha agilidade pela escrita do autor.
Em linhas gerais, adorei o filme tanto como obra independente de outra quanto como adaptação do romance. Eu primeiro assisti a Dias Vazios para depois ler o livro, e se eu já havia gostado daquilo que vi, após a leitura fiquei ainda mais encantada, por ter sido capaz de apreciar o trabalho de transposição de uma mídia para outra. Mais informações sobre o filme podem ser conferidas na entrevista realizada com Robney Bruno Almeida e André de Leones.
Minha cidade não foi contemplada com a exibição do filme ?
Mas tem o livro né?! Que eu sempre gosto mais hahahaha não conhecia até você falar sobre ele… acho que esse “vazio” existe em certo grau na vida de todo mundo, precisamos de motivos para movimentar a vida.
Gostei da dica, anotado ?