[Resenha] A Casa Holandesa - Ann Patchett - Minha Vida Literária
Minha Vida Literária
11

ago
2020

[Resenha] A Casa Holandesa – Ann Patchett

Após a Segunda Guerra Mundial, graças a uma conjugação de sorte e senso de oportunidades, Cyril Conroy entra no ramo imobiliário, criando um negócio que logo se torna um império e leva sua família da pobreza para uma vida de opulência. Uma de suas primeiras aquisições é a Casa Holandesa, uma extravagante propriedade no subúrbio da Filadélfia. Mas o que ele imaginou que seria uma surpresa incrível para a esposa acaba por desencadear o esfacelamento da família.
Quem nos conta essa história é o filho de Cyril, Danny, quando ele e a irmã mais velha – a autoconfiante Maeve – já não moram mais na casa em que cresceram, onde cada centímetro um dia ocupado por eles, pela mãe e o pai agora pertence a madrasta e suas duas filhas. Danny e Maeve aprenderam muito cedo que eram a única certeza na vida um do outro. Eles e a Casa Holandesa.
A construção – erguida na década de 1920 pelos Van Hoebeeks, um casal que fez fortuna comercializando tabaco e cujos retratos em tamanho real ainda estão acima da lareira, na sala de estar – exerce certa aura mágica sobre todos os habitantes da trama, não apenas Maeve e Danny. Foi um troféu para o pai deles, um fardo para mãe, uma ambição concretizada para madrasta. Apesar de suas conquistas ao longo da vida, Danny e Maeve só se sentem verdadeiramente confortáveis quando estão juntos e repetidas vezes voltam aquele endereço, observadores externos da própria vida.

 

Ficha Técnica

Título: A Casa Holandesa
Título original: The Dutch House
Autor: Ann Patchett
Tradução: Alessandra Esteche
Editora: Intrínseca
Número de Páginas: 345
Ano de Publicação: 2020
Skoob: Adicione
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Resenha: A Casa Holandesa

Uma ficção envolvendo cenas domésticas que conhecemos tão bem, A Casa Holandesa é mais que uma obra sobre o cotidiano, trata-se de um retrato pincelado por vidas. Ann Patchett é uma livreira independente e bem sucedida, premiada com o PEN/Faulkner e o Orange Prize, foi traduzida para mais de trinta idiomas e também assina Bel Canto, outra publicação pela Intrínseca. Em uma entrevista, ela disse que escreveu A Casa Holandesa com intuito de falar sobre a maternidade que não gostaria de vivenciar.

Cyril Conroy entra no ramo imobiliário após a Segunda Guerra Mundial, criando um antro de oportunidades e opulência que o levam à aquisição da famosa Casa Holandesa, uma extravagante propriedade da Filadélfia. O que ele não imaginou é que isso destruiria por completo sua família. A história narrada por Danny, filho de Cyril, transita pelo passado e presente, desde quando moravam na casa de sua infância, e discorre sobre o troféu que ela significava ao seu pai, o fardo para a sua mãe e a ambição concretizada da madrasta, Andreia. Danny e sua irmã, Maeve, não têm certeza sobre muitas coisas, mas seguem juntos e repetidas vezes até seu endereço antigo, a Casa Holandesa, tornando-se, por algumas horas, observadores externos da própria vida.

Passado e presente são intercalados sem uma forma padrão na narrativa, mesclando um fluxo de pensamento inconstante que não chega a atrapalhar a leitura, ao contrário, trouxe uma sensação de fluidez diferente. Era como estar sentada em uma mesa tomando café da tarde enquanto ouvia sobre a vida de Danny e de Maeve, antes e depois da Casa Holandesa. Ann Patchett tem uma voz empática quando escreve e isso atravessou meu coração, era impossível não me importar com os personagens. Eles estavam vivos, presentes e reais na minha cabeça.

Ao longo do livro somos arrastados pela vida e sentimentos dos irmãos: o ódio que eles sentem de Andreia e o rancor que os move por longos anos são os temas principais do romance. Contudo, ele não trata apenas da dificuldade de dois jovens em esquecer o passado, mas também do fim e começo de outras duas gerações, o que cria raízes nas páginas e uma importância absoluta para o desenvolvimento dos protagonistas.

Personagens esses, inclusive, trabalhados por Ann Patchett de uma forma tão primorosa que se movem com habilidade entre os papéis de herói, vilão e mentor durante toda a narrativa. É fácil perceber quando estão nessas funções, quando a moral desses personagens entra em conflito com o desejo e, mesmo não sendo algo da personalidade apresentada por eles inicialmente, são tomados pelo ódio e sofrem a consequência de suas decisões. É um livro que nos faz refletir bastante sobre isso, pelo modo como o narrador nos influencia através de sua narrativa tendenciosa, visto que nós temos acesso apenas a informação que ele próprio tem.

A Casa Holandesa, na minha opinião, é uma aula de desenvolvimento de personagens, desde suas personalidades até suas transições. Não é uma obra de reviravoltas impressionantes; na verdade, é fácil o leitor esperar o que vem a seguir, mas ler o que aconteceu dá a sensação de que a casa e seus moradores realmente existiram por conta do aspecto de realidade impresso na narrativa — o que faz tudo valer a pena. Recomendo muito esse livro.





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9 Respostas para "[Resenha] A Casa Holandesa – Ann Patchett"

RUDYNALVA CORREIA SOARES - 11, agosto 2020 às (23:05)

Francine!
Sou madrastra, mas as meninas me chamam de Mãedrasta, nem todas são ruins:(
Nós temos algo inerente em nossa personalidade que nos abala profundamente quando ‘achamos’ que perdemos algo para uma pessoas que talvez não a merecesse… e em algumas pessoas, isso se torna mais evidente e marcante, trazendo uma melancolia profunda, e acredito que o livro traz esse sentimento tão arraigado de perda.
Gostaria de conhecer essa escrita carregada de camadas que vamos desvendendo aos poucos esse drama familiar.
cheirinhos
Rudy

Angela Cunha - 12, agosto 2020 às (07:32)

Quando a caixinha de sonhos chegou com esse livro, o “boom” foi grande e eu fiquei doida para ler. Aí as resenhas começaram e essa vontade só aumentou. Tá, tem uma ou outra resenha não tão positiva, principalmente falando sobre a lentidão da leitura. Mas eu prefiro acreditar que a Casa é a personagem central dessa trama. É ali que acontece os dramas, as desilusões, a convivência e o recomeço.
Por isso, o livro continuará na lista dos mais desejados até eu poder comprar!!!!!
Beijo

Amanda Almeida - 12, agosto 2020 às (09:17)

Vi algumas pessoas dizendo que a alternação entre presente e passado tornou a leitura um pouco confusa. Realmente, li muitos elogios sobre o desenvolvimento dos personagens. Parece ser um livro muito bom, mesmo não sendo do tipo que eu prefiro ler.
Beijos

Anna Mendes - 12, agosto 2020 às (10:40)

Oi Fran!
Eu vi que este livro estava sendo comentado pelo Booktube, mas eu ainda não tinha tido a oportunidade de ver sobre o que o livro tratava.
Em primeiro lugar achei diferente e intrigante a capa do livro, que parece uma pintura.
Quanto à premissa, parece ser uma história envolvente, boa para ser desfrutada aos poucos.
Gosto muito quando a trama é narrada intercalando presente e passado, principalmente quando a história tem esse toque mais “histórico”, devido à época em que se passa.
Só de ler sua resenha, já dá para perceber que o foco do enredo, além das relações familiares, são os personagens, os quais parecem ser bem construídos.
Fiquei curiosa para fazer a leitura 🙂
Bjos!

Scheila - 12, agosto 2020 às (11:31)

Oii, Fran!

Eu não tinha visto esse livro ainda, e achei sensacional pela sua resenha.
Esse drama familiar pare muito algo que vivenciamos né.. Eu adoro isso de ir mostrando presente e passado, me envolvo demais com histórias assim.
Os personagens parecem realmente serem ótimos, fiquei com muita vontade de ler!

Beijos, <3.

Theresa Cavalcanti - 14, agosto 2020 às (09:53)

Olá, Francine!

Achei a capa desse livro muito interessante!
Sua resenha me deixou com muita vontade de ler esse livro, e quando fui adicionar no skoob, vi que ele já estava na minha lista. KKKKKK
Não lembrava de já ter visto algo dele, mas agora quero ler sim!

Beijos.

Luis Carlos - 16, agosto 2020 às (11:18)

Sua resenha deixou bem claro o quanto esse livro é bem escrito e bem desenvolvido. Eu adoro livros que intercala passado e presente, desde que não seja confuso e mal escrito, pois a leitura acaba ficando mais fluída. Essa é a primeira vez que ouço falar desse livro, mas vendo que ele tem tantas qualidades, eu já me vi interessado em lê-lo!

Ana Paula Santos Moreira - 30, agosto 2020 às (01:33)

A história desse livro é muito interessante, parece até uma reflexão. Mesmo parecendo uma leitura meio confusa por causa da alternância entre passado e presente, não deixa de ser curioso. Não gostei muito da capa, achei meio assustadora para mim.

Elizete Silva - 31, agosto 2020 às (22:38)

Olá! Estou bem curiosa para conferir essa história, tendo a certeza que vai ser impossível não me emocionar a cada página lida, um enredo intenso, com temas, muitas vezes, bem difíceis de lidar.

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