#CartasParaQuemAmei é um projeto dos #EscritosDaAione reunindo textos sobre amores passados. Esse é o quarto texto da série, publicado originalmente no Instagram.
#CartasParaQuemAmei
Querido nº 3,
Obs: Gatilho | Relacionamento abusivo
Sua carta é a mais difícil.
Como falar de amor quando ele coexistiu com o abuso? Como separá-lo da dependência?
Ainda não sei pensar em você com clareza. Não sei lembrar sem dor. Não sei olhar para trás sem pensar “não sei”.
Lembro de ser olhada com veneração. Lembro de ser cuidada e apoiada. Lembro como suas declarações públicas me faziam amar e me sentir amada como nunca. Eu sonhei, com você, o nosso futuro.
Então, lembro do seu olhar se transformando em uma arma gélida mais assustadora e cortante do que o ódio. Lembro de suas palavras me culpando por qualquer coisa. Lembro de todos os artifícios psicológicos que existiam para me controlar, me colocando em uma redoma — sua proteção contra sua própria dor.
Parte de mim sabe que você não conheceu o amor, então como poderia amar? Porém, a parte que se fortaleceu depois de ter sido destruída sabe que você não tinha o direito de me adoecer com chantagens travestidas de amor.
Sempre se fala das dores de uma relação abusiva, mas não vejo ninguém comentar que a pior parte é quando ela termina — ainda mais quando não se tinha noção do que ela era. A relação acaba, mas a culpa permanece. O relacionamento deixa de existir, mas não a dependência. A ameaça continua presente mesmo quando o algoz não está fisicamente ali. Os sentimentos aparecem mascarados de sofrimento pós término, e somente com o tempo são decifrados como sequelas de um abuso, não dores de um amor. Deve ser um pouco como o vício: o que te vicia acaba com você, mas é a abstinência que te enlouquece.
Eu achei que não sobreviveria depois de partir — não tinha me dado conta de que, se tive uma força monstruosa para te deixar, eu certamente era forte o bastante. Sinceramente? Passei meses desejando não sobreviver.
Mas eu sobrevivi.
E, enfim, aprendi a viver.
Desejo que você tenha conhecido o que é o amor, não só porque desejo, de coração, sua cura. Eu também desejo que mais nenhuma mulher tenha com você a mesma experiência que eu tive.
Aione!
Tão triste passar tanto tempo pensando que uma relação é de amor e perceber (e ainda bem que houve tempo para se perceber) que era algo abusivo.
Tive uma experiência similar em meu primeiro casamento, os abusos e artifícios psicológicos usados, a manipulação, a exigência, os ciúmes excessivos… e omo falou, o mais complicado foi depois de anos de convivência, quando nos separamos, o vácuo, o sentimento de solidão e outros tanos que se misturaram… foram difíceis, mas como falou, sobrevivi.
Lindo depoiemnto.
cheirinhos
Rudy